segunda-feira, 19 de março de 2012

Entrevista: Andrea Gianini, Profissão além do perigo



Mãe determinada, motogirl revela rotina de encarar pesado trânsito de São Paulo e sonho para o futuro

Predominantemente masculino, o ambiente das duas rodas não é mais o mesmo. Em vez de barba, suor e coletes sujos pela pressa das entregas do cotidiano, charme e atenção no trânsito. São as mulheres, que assumem o guidão batalhando por melhores condições de vida e reconhecimento. No embalo das motocicletas, elas, porém, acabam trazendo uma recente preocupação: dados do Ministério da Saúde apontam que, entre 1996 e 2010, o número de mulheres mortas em acidentes envolvendo motos cresceu 16 vezes.

Cenário hostil que preocupa Andrea Gianini. Motogirl e mãe de um filho de sete anos em São Paulo, a paulista de 40 anos fala sobre como é guiar entre uma multidão de veículos e vivenciar dramas como o da ciclista Juliana Dias, atropelada por um ônibus na Avenida Paulista.

Você passava pelo local do acidente quando ia trabalhar. Qual foi sua reação?
Fiquei chocada. Foi terrível assistir àquela cena. O problema é que as pessoas não se respeitam. Eu me cuido, sigo as leis. Mas de que adianta, se o motorista ao lado não faz a mesma coisa? O trânsito não é feito só de leis e sinalização. O trânsito é feito de pessoas.

E nesse meio, como você se tornou motogirl?
Foi por necessidade, há mais ou menos cinco anos. Piloto motos há 20 anos, meu salário é semelhante ao de uma auxiliar administrativo, mas prefiro trabalhar como motogirl por causa da liberdade, além da possibilidade de ganho extra, com alguns trabalhos particulares.

Para conseguir atender a quantidade de entregas com agilidade, imagino que sua rotina no trabalho seja dura. E fora dela, como é?
Meio dia levo meu filho para a escolinha. Depois, volto para o trabalho. Depois das 17h30, começa a outra rotina. Pegar o meu filho, dar banho, fazer comida e ir para a faculdade. Escolhi uma área que gosto muito, a de Tecnologia da Informação. Sei que o meu trabalho é perigoso, não quero continuar muito mais tempo nessa profissão. Mas ainda não posso trocar o certo pelo duvidoso.

Você já sofreu acidentes com a moto?
Sim, quatro. Três deles aconteceram porque havia óleo na pista. No primeiro a moto deslizou, caí, mas graças a Deus estava com uma roupa adequada e sofri apenas alguns arranhões. Depois desse primeiro tombo, comecei a ficar com medo. Mas no último acidente, quando um taxista me fechou e sequer parou para prestar socorro, estava cheia de trabalho para fazer. Levantei a moto e voltei para a pista.

Como você se prepara para a rotina de motogirl?
Minha profissão é perigosa, cansativa. Preciso me preparar psicologicamente e estudar o melhor trajeto todos os dias antes de sair de casa. Por isso, procurei um trabalho que fosse próximo à minha casa. Também fiz isso com a escola do meu filho, que eu levo a pé todos os dias. O ideal seria que as pessoas fizessem isso, que facilita muito a vida. Não adianta trabalhar do outro lado da cidade. Perde-se tempo, dinheiro, além da saúde. O trânsito depende muito mais das pessoas do que das leis.


“O trânsito depende muito mais das pessoas do que das leis”
Andrea Sadocco Gianini, motogirl

Mercado de motos registra alta de 8% nos emplacamentos em março

Cada vez mais competitivo e acessível ao consumidor brasileiro, o mercado de motocicletas zero quilômetro vive momento de aquecimemento nas vendas. O cenário positivo se traduz nos emplacamentos da primeira quinzena de março, 8% maiores em relação ao mesmo período do mês anterior. De acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), foram emplacadas 84.073 unidades - uma média diária de 7.643 motos, ante as 77.935 registradas nos primeiros quinze dias de fevereiro de 2012.

Comparados com março de 2011, quando foram comercializadas 68.709 motocicletas, os dados atuais apresentam um crescimento de 22%.

Para o restante do mês, a projeção da associação é igualmente otimista. A Abraciclo espera que os emplacamentos alcancem as 168.146 unidades, o que caso se concretize, representaria avanço de 25% em relação a fevereiro passado (134.616 motocicletas), que teve menos dias úteis, e de 5% ao registrado em março de 2011 (160.320 unidades).

As restrições na oferta de crédito, no entanto, ainda são uma barreira para a expansão consistente do mercado, afirma a associação.